2300 TARDES E MANHÃS E O SANTUÁRIO APOCALÍPTICO

Pr. Weder Silva

O Santuário de Israel, erigido por Moisés, fora feito de acordo com o modelo que lhe foi mostrado no monte (Êxodo 25.8-9), tudo indica que o que o profeta viu foi o Santuário Celestial. Deus assim o fizera para que estudando o Santuário Terrestre entendêssemos melhor a intercessão de Cristo no Santuário Celestial. Logo, segue uma das profecias mais lindas e precisas das Sagradas Escrituras.

WILLIAM MILLER

MILLER

VIDA E ESTUDOS PROFÉTICOS

William ou Guilherme Miller foi um cristão, membro da Igreja Batista, nos Estados Unidos; e seguiu sendo até sua juventude, quando desviou de suas crenças para professar o Deísmo, pensamento que, considerando a existência do mal, entende Deus como o criador do mundo, mas que o abandou a si. O retorno às considerações cristãs veio após a guerra dos Estados Unidos contra o Reino Unido, em 1812. A América tinha um fraco e bagunçado exército que Miller, tenente, liderou sob o posto de capitão. Contudo, além de vencer a guerra com uma milícia mais fraca, uma bomba explodiu próximo de Miller, e ele saiu ileso, testemunhos fortes de um cuidado superior que o levou a reconsiderar a fé no Deus cuidador. Foi então que Miller retorna ao estudo da Palavra de Deus, interessado a compreendê-la, verso a verso. As profecias de Daniel, estudadas com o auxílio da Concordância de Cruden, as quais passamos a considerar:

DANIEL 2

O rei Nabucodonosor da Babilônia teve um sonho, no entanto, não lembrava dele ao acordar. Os babilônicos criam que os sonhos eram a comunicação dos deuses com os homens, o que levou o rei interessar por seu significado, chamando seus magos, astrólogos e feiticeiros a fim de lhe dizer tanto o sonho como seus significado. Como eles ‘assinaram atestado de incompetência’, não conseguindo prover respostas ao rei, este os ameaçou de morte, que só não se cumpriu em virtude de Daniel interceder, pedido um tempo a mais para orar a Deus. O fato é que Deus deu ao profeta o sonho e lhe explicou o significado, que ora se segue:

A estátua do sonho do Rei tinha a cabeça de ouro (Daniel 2.31-32), que representava o reino da Babilônia (Daniel 2.37-38). Contudo, o reino de ouro perderia para um segundo reino, de prata, que representa a vitória dos Medo-Persas sobre os babilônicos (Daniel 5.28). Este poder, porém, fora superado por outro povo, representado pelo ventre de bronze, exatamente como o carneiro (Medo-Persas) foram derrotados pelo reino-bode da Grécia (Daniel 8.20-21). O império greco-macedônio também foi vencido na profecia, agora pelo reino-ferro, que aponta para a vitória de Roma sobre os gregos (História). O caso é que o reino romano teve duas fazes, a primeira denominada pagã e a segunda chamada papal após a queda do império para os dez povos bárbaros. Constantino, imperador romano, mudou o trono de Roma para Bizâncio, fundando Constantinopla, nova sede do império, ao tempo que deixa o ocidente vago. Logo, estava aberto o caminho para as incursões dos povos bárbaros, que fizeram Roma imperial cair em 476 e.C. sob os ataque dos:

Lombardos (Norte da Itália)

Visigodos (Norte da Espanha)

Hérulos (Sul da Itália)

Vândalos (Sul da Espanha no Norte da África)

Burgundos (Suíça)

Germânicos (Alemanha)

Ostrogodos (Áustria)

Suevos (Portugal)

Anglo-Saxões  (Inglaterra)

Francos (França)

Embora Roma pagã tenha caído, seu poderio continuou a existir e se expandiu por meio do papado, que desde 313 passara a se associar ao império, sendo legalmente votado, em 380 e.C., o catolicismo como a religião oficial do império. Assim, o bispo de Roma gozara de um prestígio que só cresceu, especialmente após a conversão de Carlos V, rei dos Francos, em 508 e.C., que auxiliou na conversão dos outros povos bárbaros ao catolicismo, criando um reino híbrido de falsa união, mescla de Roma Papal (Ferro) com seus vassalos Bárbaros Europeus (Barro), hoje unidos no Comércio Comum Europeu. Segundo a profecia, o Comércio Comum Europeu liderado por Roma Papal será o último reino humano, já que o próximo reino, representado pela pedra cortada sem auxílio de mãos, é um reino eterno que destruirá os reinos deste mundo; sim, o reino-pedra é  erigido por Deus e será estabelecido para sempre (Daniel 2.44, 1Coríntios 10.4).

Era encantador para Miller reconhecer que as profecias de Daniel eram o jornal do futuro, quando escrito em sua época, por volta de 600 a.C. E continuou a estudar, chegando agora em Daniel 7, o próximo conteúdo profético do livro.

DANIEL 7

Em Daniel 7 Miller conseguiu compreender o que é Paralelismo Profético, isto é, Deus conta a mesma história com símbolos diferentes, ao tempo que cada profecia aborda o mesmo conteúdo histórico ao tempo que se acrescenta detalhes importantes a cada visão. Daniel 7 troca os metais da estátua por animais, deixando claro que animais em profecias equivale a reinos (Daniel 7.23):

O primeiro animal era um Leão Alado (Daniel 7.4), que na profecia representa o reino da Babilônia. As asas, além de apontar para a deusa Ishtar, e haver estas representações comuns de animais alados e leões, as asas apontam para o trabalho incansável daquele reino de progredir em expansão (Isaías 40.31).

O segundo animal, um Urso com 3 costelas na boca e que ficou em duas patas (Daniel 7.5), aponta para o reino Medo-Persa. As três costelas na boca indicam os reinos por eles vencidos para dominarem o mundo: a Lídia, o Egito e a Babilônia, que regiam as regiões da Ásia Menor, Europa Meridional e Oriente Próximo (Enciclopédia Barsa). O terceiro animal, um Leopardo com 4 cabeças e 4 asas (Daniel 7.6) representa na profecia precisamente o reino da Grécia. As asas continuam tendo o mesmo significado de trabalho incansável de expansão (Isaías 40.31), agora se referindo aos incursos de Alexandre, o grande. As 4 cabeças representam os fatos históricos ocorridos após a morte de Magno. Não possuindo substituto a altura, diversas ações foram tomadas para a continuidade de sua dinastia: a ascensão de Filipe Arideu, meio irmão de Alexandre; a entrada de Alexandre IV e Héracles, filhos do monarca, mas nenhum deu certo. Depois destas tentativas malfadadas, iniciou uma guerra entre os generais de Alexandre pelo domínio, que culminou na divisão do império em 4 partes, cada uma delas lideradas por um dos generais, que iniciaram 4 dinastias: Cassandro, Ptolomeu, Lisímaco e Selêuco.

O quarto animal, Terrível e Espantoso, tinha dez chifres e dentes de ferro (Daniel 7.7). Os dentes apontam para o ferro das pernas e pés da estátua, a fim de firmar o paralelo com o Império Romano. Seus dez chifres, apontam para os povos bárbaros que invadiram Roma, já vistos na profecia de Daniel 2. Neste animal surge também um Chifre Pequeno, que derruba três dos chifres preexistentes no animal. Este Chifre Pequeno é a segunda fase do reino romano, o Império Romano Papal, que foi responsável por derrotar três povos bárbaros: os Hérulos, os Vândalos e os Ostrogodos. Este chifre tem olhos de homem e boca que fala blasfêmias, o que expressa a natureza antropocêntrica do reino (homem no centro), e suas ações contra a verdade, como a ideia de perdoar pecados e doar indulgências, competência pura e exclusivamente divina; intitula-se pai da igreja (Papa/Padre), quando Cristo orienta a não usar esta titulação (Mateus 23.9), mudou a guarda do sábado para o domingo em adoração ao Sol, seguindo o mandato do imperador romano e tirou da Lei o mandamento que proíbe confecção, posse e adoração de imagens. A profecia ainda previu que ele dominaria por 1 tempo, 2 tempos e 1/2 de um tempo. Como tempo é ano (Daniel 11.13), ele dominaria por 360  dias+ 720 dias+ 180 dias= 1260 dias. É claro que aqui se vê o domínio Papal de 1260 anos (Ezequiel 4.7), de 538 e.C. quando atacam os Ostrogodos, até 1798 e.C. quando o Papa Pio VI é preso por Napoleão, findando a Supremacia Papal. Após o trabalho papal, a profecia apresenta o Juízo (Daniel 7.9-10,26 e 27), o que levou Miller a enxergar aqui o Reino de Deus no Juízo Final, o que lhe deu grande segurança em suas crenças, que o mergulhou na certeza de que Jesus em breve voltaria e os dados históricos e proféticos confirmavam aquilo inequivocadamente.

DANIEL 8

Mais que qualquer outro texto da Bíblia, Daniel 8 e 9 influenciou e marcou plenamente a vida de William Miller. Daniel 8 inicia com um Carneiro de dois Chifres (Daniel 8.3) cujo anjo explica ser o reino unido dos Medos e Persas (Daniel 8.20). Este carneiro foi atacado e destruído por um Bode com um Chifre Notável (Daniel 8.5-7), que representa a vitória da Grécia sob Alexandre, o grande chifre do animal. O chifre que representa Alexandre é quebrado e substituído por 4 outros chifres, que sobem para os 4 ventos do Céu, isto é, os 4 pontos cardeais (Daniel 8.8, 21-22). Esta cena significa que morre Alexandre, mas não tem ascensão digna após si, pois Filipe Arideu, Alexandre IV e Héracles não conseguem levar o reino adiante, o que culmina no fim da dinastia alexandrina e na divisão do império em 4 partes, após uma guerra entre os generais: Cassandro, Ptolomeu, Lisímaco e Selêuco.

No fim das 4 dinastias de Alexandre, quando o último rei delas for vencido, nasceria um Chifre Pequeno (Daniel 8.8, 22-24), e segundo o texto, este chifre está no lugar profético cujo paralelismo indica Roma. Isto se cumpre no trajeto do chifre para o Sul, Oriente e a Terra Formosa (Daniel 8.9), por meio do qual vemos o crescimento de Roma para o norte da África (Sul da Itália), para o Oriente (Leste de Roma) e a Terra Formosa (Jerusalém).

Este mesmo Chifre muda de perspectiva: deixa a expansão territorial, e ataca o Céu, derrubando parte de suas estrelas, atacando o Príncipe do Céu e tirando dele o contínuo, ao tempo que o lugar do santuário é lançado por Terra (Daniel 8.9-11). Tudo isso representa a mudança de Roma Pagã para Roma Papal, que passa a fazer ataques religiosos, por isso, contra o Céu e contra o Príncipe. Ele diz ter poder para perdoar pecados, inventa doutrinas como a do purgatório, inexistente na Bíblia; persegue e mata milhões de servos de Deus pela Inquisição, muda a guarda do Sábado para o Domingo, e se arvora como pontífice, isto é, o construtor de ponte entre Deus e o homem, etc. Este estabelecimento de intercessão humana, inspirada por Satanás, via Confessionários, estátuas e padres desviou milhões da intercessão celestial de Cristo, para uma intercessão fajuta e Terrestre. É neste contexto horrosoro que, na profecia, um anjo questiona outro: “Quanto tempo vai durar esta abominação?” (Daniel 8.13). A resposta de que a profanação do Santuário duraria “até 2300 tardes e manhãs” (Daniel 8.14) elevou a mente de Miller para a volta de Jesus, e isso por algumas razões: Primeiro porque o reino Papal na Europa era o último reino humano em Daniel 2, o que pareceu se confirmar na profecia de Daniel 7, em que depois do trabalho do Chifre Pequeno viria o Juízo, que se cria ser o de Mateus 25, a salvação final. Por conseguinte, o Chifre Pequeno de Daniel 8 era também Roma em suas duas fases, sendo as 2300 tardes e manhãs o período que delimitaria seu trabalho, findando com o Reino de Deus. Miller só não tinha uma convicção: Quando inicia a contagem deste tempo.

HAZON (חזון) & MAR’EH (מראה)

Miller seguiu a linha de raciocínio correta, mas não tinha conhecimento profundo das questões do hebraico bíblico, como explanadas maravilhosamente pelo Dr. Gerhard Hasel, que elimina toda e qualquer dúvida de que as 70 Semanas do capítulo 9 demarcam o início das 2300 tardes e manhãs, como um selo de garantia e autenticidade da profecia. Em Daniel 8.1 a palavra que o profeta usa para especificar tudo o que viu é a palavra hebraica Hazon (Visão):

DANIEL 8.1

No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, eu, Daniel, tive uma visão depois daquela que eu tivera a princípio.

בשׁנת שׁלושׁ למלכות בלאשׁצר המלך חזון נראה אלי אני דניאל אחרי הנראה אלי בתחלה׃ 

Estando no início do capítulo, percebe-se que Hazon ela se refere a tudo que Daniel viu: O Carneiro de dois chifres, o Bode peludo, bem como seus chifres variados, o Chifre Pequeno e sua profanação ao Santuário, a profecia das Tardes e Manhãs, bem como o fim do reino do chifre. No entanto, no verso 23, o anjo introduz uma nova palavra para visão, especifica para falar das 2300 tardes e manhãs, Mar’eh:

DANIEL 8.26

A visão da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, preserva a visão, porque se refere a dias ainda mui distantes. 

ומראה הערב והבקר אשׁר נאמר אמת הוא ואתה סתם החזון כי לימים רבים׃ 

Esta subdivisão feita pelo próprio anjo é imprescindível para a correta compreensão da profecia, pois no verso 27 Daniel fica doente por não entender a visão, e sem esta especificidade não saberíamos se ele estava com dúvida sobre a visão inteira ou as 2300 tardes e manhãs apenas. O contexto já demonstra que não pode ser sobre a visão inteira, pois o anjo explicou toda a visão (Daniel 8.15-25), com exceção das 2300 tardes e manhãs. Isso fica claro por meio da palavra visão usada por Daniel no verso 27, já que ele especifica que o que não era entendido era a Mar’eh:

DANIEL 8.27

E eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias; então, levantei-me e tratei do negócio do rei; e espantei-me acerca da visão, e não havia quem a entendesse. 

ואני דניאל נהייתי ונחליתי ימים ואקום ואעשׂה את־מלאכת המלך ואשׁתומם על־המראה ואין מבין׃

O QUE DANIEL NÃO ENTENDEU DAS 2300 TARDES E MANHÃS

Daniel sabia, pela profecia de Jeremias, que o cativeiro babilônico duraria 70 anos (Jeremias 25.8-12), período que estava prestes a terminar. Ao a profecia declarar que o Santuário seria purificado apenas a 2300 tardes e manhãs, Daniel exasperou-se, pois parecia que o cativeiro não se cumpriria em 70 anos como dissera Jeremias, mas que em virtude o pecado do povo, ele seria alongado para mais 2300 anos. Isso levou o profeta a adoecer (Daniel 8.27), e a revisitar as profecias de Jeremias e confirmar se não entendera errado o profeta (Daniel 9.1-2). Um vez certo de que o cativeiro duraria 70 anos, segundo Jeremias, pôs-se a orar, a fim de que Deus tivesse misericórdia e não alongasse o cativeiro. Esta súplica por misericórdia para que o cativeiro não fosse prolongado é grande parte do conteúdo de Daniel 9, segue do verso 3 até o 20. A partir de Daniel 9.20-23, o suplicante recebe uma visita inusitada: o anjo Gabriel vem do Céu para desfazer as inquietações do profeta:

DANIEL 9.23

No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão.

בתחלת תחנוניך יצא דבר ואני באתי להגיד כי חמודות אתה ובין בדבר והבן במראה׃ 

Ao dizer “Entende a visão”, o anjo emprega a palavra Mar’eh, isto é, entende as 2300 tardes e manhãs, por causa das quais adoeceste na visão anterior (Daniel 8.26-27). Assim, quando o anjo vem para explicar a profecia das 70 Semanas, demonstra que o cativeiro teria fim, e que a partir do Decreto Persa iniciar-se-iam as 2300 tardes e manhãs, em cuja primeira parte de 490 anos ocorreria o reestabelecimento de Israel, o batismo e morte de Jesus, pagando nossa dívida por conta do pecado e a última oportunidade de os judeus saírem para evangelizar. Se estes acontecimentos se cumprissem no período certo prescrito na profecia, então poder-se-ia ter confiança de que a contagem das 2300 tardes e manhãs estaria correta.

PRINCÍPIO DIA ANO

Esta profecia apresenta um período de 2300 dias, mas seria estes dias literais ou equivalentes a anos? – É óbvio que é um dia equivalente a um ano, já que algumas coisas não fariam sentido se este fosse apenas um tempo de pouco mais de 6 anos.

1 – O anjo diz que a profecia se referia a “dias muito distantes” (Daniel 8.26). – Isto só faz sentido se for usado o princípio dia/ano.

2 – Daniel adoece por causa da visão das 2300 tardes e manhãs (Daniel 8.27). – Daniel não teria razões de ficar doente por conta de um simples prolongamento de 6 anos no cativeiro. Agora, se fosse um acréscimo de 2300 anos sim.

3 – 70 semanas equivaleriam a um pouco mais que um ano e meio de oportunidade a Israel, quando historicamente Jesus nem ainda tinha vindo, ou seja, a oportunidade a Israel se estendeu em muito às 70 semanas literais.

4 – Daniel 9.25 prevê o fim do cativeiro era o início do cômputo, mas ainda não havia ocorrido nenhum decreto.

5 – Daniel 9.25-27 aponta para o batismo de Jesus, sua morte e o fim da oportunidade de exclusividade a Israel, isso não se deu se não séculos mais tarde.

Por conseguinte, na profecia, um dia equivale a um ano (Ezequiel 4.7), como se pode ver em Números 14.34, justificando sob estas 5 razões, o uso deste princípio no computo profético das 2300 tardes e manhãs.

SETENTA SEMANAS

Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. (Daniel 9.24)

O anjo descreve aqui as 70 semanas, o período inicial das 2300 tardes e manhãs. Outra evidência é a própria palavra traduzida por determinadas para o português, pois em hebraico a palavra Hatakh (חתך) significa Cortada, ou seja, ela pertence a um período maior, que só pode ser as 2300 tardes e manhãs, a Mar’eh que o anjo veio explicar. Este tempo de 490 dias, deve ser entendido como 490 anos, pois um dia em profecia equivale a um ano (Ezequiel 4.7; Números 14.34); era o período que Deus dera a Israel, uma oportunidade para assumir o trabalho de ser a Luz do mundo.

Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. (Daniel 9.25).

Neste verso é especificado o início da profecia: a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém. Houve 4 decretos para a restauração de Jerusalém: o de Ciro (536 a.C.), o de Dário (519 a.C.), o de Artaxerxes (457 a.C.) e a reafirmação deste decreto pelo mesmo Artaxerxes (444 a.C.). Seria um problema indissolúvel se o anjo não especificasse na profecia o início do ministério de Jesus, quando diz que do decreto até o Príncipe Ungido passar-se-iam 7 semanas mais 62 semanas. Se 7 semanas referem-se a 49 anos e 62 semanas referem-se a 434 anos, temos do decreto até o batismo de Cristo após 483 anos, ou seja, se subtrairmos 483 anos a partir do decreto chegaremos ao batismo de Jesus, o que só é possível ao terceiro decreto, o de Artaxerxes:

– Ciro (536 a.C.) – Se subtrairmos 7 semanas + 62 semanas deste decreto (Daniel 8.25), isto é, 483 anos, chegamos ao batismo de Jesus entre 53 e 52 a.C. – Como não faz sentido Cristo ser batizado meio século antes de nascer, esta não é a data correta para o início da profecia. Logo, despreza-se no cálculo o decreto registrado em Esdras 1.

-Dário (519 a.C.) – Se subtrairmos 7 semanas + 62 semanas deste decreto (Daniel 8.25), isto é, 483 anos, chegamos ao batismo de Jesus entre 36 e 35 a.C. – Sendo ainda inadmissível que Cristo tenha sido batizado em 36 ou 35 a.C., este decreto descrito em Esdras 6 também não corresponde à profecia.

-Artaxerxes (457 a.C.) – Este decreto de Esdras 7 é o único e adequado decreto para o cômputo desta profecia, pois subtraindo 7 semanas + 62 semanas deste decreto (Daniel 8.25), isto é, 483 anos, chegamos ao batismo de Jesus entre 26 e 27 e.C. Isso corresponde às expectativas históricas do batismo de Cristo que vai do ano 25 a 30 e.C.

-Artaxerxes (444 a.C.) – Este decreto também não pode ser o da profecia, já que lança o batismo de Cristo para 39 e 40 e.C., uma década além do tempo máximo do batismo relatado pelos historiadores.

Tendo assim estabelecido a data de início, toda a profecia pode ser datada, já que se tem os eventos e o tempo que leva para cada um deles ocorrer. A profecia prevê que, do decreto para a restauração de Jerusalém (outono de 457 a.C.) até o batismo de Jesus, contar-se-iam dois períodos importantes: 7 semanas, que curiosamente coincide com os 49 anos que levaram do decreto à reconstrução da cidade, havendo assim o reestabelecimento do povo de Israel entre 408 e 407 a.C. Após este tempo, Daniel 9.25 previu mais 62 semanas, que são 434 anos que levam da reconstrução da cidade ao batismo de Jesus, entre os outonos de 26 e 27 e.C. Assim, maravilhosamente se cumpriram com perfeição 69 semanas (7 semanas + 62 semanas), faltando agora para o fim das 70 apenas 1 semana profética, que são 7 anos a nos levar a 33 e 34 e.C. No entanto, o que decorre nesta última semana?

Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. (Daniel 9.26).

O ser celestial agora fala da morte do Ungido, isto é, Jesus morreria e a profecia se põe a demarcar o tempo para tanto. As 62 semanas levaram ao batismo de Cristo, deste modo, quando o anjo fala “após as 62 semanas” está dizendo: “após o batismo de Jesus” ele seria morto. Mas quanto tempo após seu batismo? – o verso 26 não nos responde, ele apenas fará que uma vez morto o Messias viria um povo que destruiria a cidade e o santuário, o que se cumpriu historicamente no ano 70 e.C. quando os romanos assolaram Jerusalém sob o comando do general Tito. É o verso 27 que nos aponta quando Cristo seria morto:

Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele. (Daniel 9.27).

O texto descreve a última semana da profecia, 7 anos que se estenderá de 26 e 27 e.C. (no batismo de Jesus) até 33 e 34 e.C., fim da oportunidade de Israel assumir a exclusividade como pregadores da Mensagem. O texto prevê que neste período o Messias estabeleceria uma Aliança com muitos; isso indica que do início de seu ministério até 33 e 34 e.C. haveriam muito judeus que aceitariam a Jesus como o Messias, todavia, na metade desta semana profética, isto é, entre 30 e 31 e.C., cessariam os sacrifícios. Os holocaustos perdem seu sentido quando o verdadeiro Cordeiro (João 1.29) morre; por isso, na morte de Jesus, o véu do santuário rasgou-se de alto a baixo (Mateus 27.51, Marcos 15.38 e Lucas 23.45), o que indica que Deus, o Pai, pusera fim ao serviço sacrifical, aceitando o verdadeiro sacrifício. Logo, o evento que se dá na metade da semana era morte de Cristo, que pôs fim à santidade dos serviços do santuário terrestre, já que agora um novo tabernáculo, no Céu, seria o palco de nossa redenção (Hebreus 8.1-2, 9.11-12). Para o término das 70 semanas, no ano 33 e 34 e.C., Estevão é apedrejado (Atos 7.54-60), como emblema da rejeição da Israel como povo exclusivo a cumprir a Missão. Foram 490 anos de oportunidade, mas agora, coroaram sua desdita com este ato; a partir deste momento, houve uma perseguição em Jerusalém, dispersando todos os cristãos, exceto os apóstolos. Assim é que se cumpre outra profecia de Cristo: “Ser-me-ão testemunhas tanto em Jerusalém, Judeia, Samaria até os confins da Terra.” (Atos 1.8); pois no mesmo capítulo 8 de Atos, Felipe leva o Evangelho ao etíope e à Samaria, primeiros passos para que a verdade seguisse aos confins da Terra.

PURIFICAÇÃO DO SANTUÁRIO – E O ERRO DE MILLER

Com toda esta empolgante descoberta, Miller entendera que estava plenamente correto em seus cálculos, com abundância de evidência histórica. Por conseguinte, seguiu contando até o fim os 2300 anos, chegando no período de 1843 e 1844 e.C. como tempo para a volta de Jesus. Guilherme Miller alcançou esta compreensão em 1818, mas não tinha a ousadia de anunciar isso ao povo. Em 1831 algo inusitado aconteceu, o que citamos na íntegra conforme o site oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia:

“Vá, diga-o ao mundo. Tremendamente lutou ele por mais de 13 anos com esta voz, até que “a convicção se tornou insuportável no ano de 1831.” Miller, pressionado pela intermitente voz do seu subconsciente: “Vá, diga-o ao mundo”, tomou uma decisão. Ajoelhou-se e orou: “Ó Deus, Tu sabes que eu não sou pregador; Tu sabes que não posso ir. Não posso, não posso… Mas se Tu, meu Pai, quiseres que eu vá, farei um pacto contigo. Se Tu abrires o caminho… o que eu quero dizer é o seguinte: Se Tu mandares um convite para eu pregar, então… eu irei.”

Miller levantou-se aliviado, dizendo: “Agora eu terei paz. Se eu for convidado, saberei que Deus me chamou. Mas não é provável que alguém virá rogando a um velho camponês de 50 anos para pregar sobre a segunda vinda de Cristo.” Não passaram 30 minutos após a oração, quando alguém bate à porta de Miller excitadamente. Era seu sobrinho Irving, que caminhara 25 quilômetros, naquele Sábado de manhã, para dar-lhe esta notícia: “Tio Miller, saí antes do café para dizer-lhe que o nosso Pastor Batista em Dresden não nos poderá falar amanhã. Papai mandou-me convidar o senhor para ir pregar sobre as coisas que o senhor vem estudando na Bíblia. O senhor pode ir?” Miller tentou retroceder trêmulo; porém, era a resposta que imaginava, o Senhor lhe dera.” O Pai do Movimento do Advento nos E.U.A.

Foi assim que em 1831 Miller começou a timidamente pregar esta mensagem. Tinha a seu favor o cumprimento de Apocalipse 6, o sexto selo, que neste tempo tinha três, dos seus quatro eventos prévios à volta de Jesus cumpridos: O grande terramoto, uma referência ao Terremoto de Lisboa (1755), o escurecimento do Sol e o avermelhamento da Lua (1780), mas foi em 1834 que sua pregação explodiu, pois o fim de 1833 fora marcado pelo quarto e último evento profético cumprido de Apocalipse 6: a chuva de estrelas de 1833. Tudo casara agora, indicando que Miller estava correto em suas crenças. O movimento cresceu, envolvendo milhões de pessoas. Próximo do evento Miller passou a ser pressionado pelos ser parceiros a fixar uma data, ao que ele resistiu bastante; no entanto, sob questionamentos intenso, expressou algo aproximado: que Cristo viria entre março de 1843 a março de 1844, o que gerou a primeira decepção, na primavera de 1844.

SAMUEL SNOW

O milerismo não foi abatido pela primeira decepção, em Março de 1844. Sua forte convicção baseada nos cálculos proféticos e corroborada com sólidos dados históricos forneceu firmeza de crença de estarem no caminho certo, por isso, passaram a reestudar o assunto para verificar o que dera errado. Descobriram que haveria uma tardança (Habacuque 2.3 e Mateus 25.5), mas não sabia de quanto tempo, e prosseguiram nos estudos, até o auxílio de um pregador milerita, como relata o site oficial Adventista:

“Os mileritas aguardavam a volta de Jesus, segundo os cálculos matemáticos, até mais ou menos o dia 21 de Março de 1844, que era o final do ano judaico. Ao passar esta data, meio atordoados, reexaminaram os cálculos, e, um dos mileritas, (SAMUEL S. SNOW) trouxe para os já desalentados mileritas duas importantes explicações animosas.” O Pai do Movimento do Advento nos E.U.A.

O primeiro alerta de Snow foi que o Decreto de Artaxerxes ocorrera no outono de 457 a.C., o que lançava o cumprimento profético para meses à frente; a segunda observação era a de que a Purificação do Santuário, na Lei Judaica, ocorria no Dia da Expiação, o que nunca se daria em Março. Como os judeus de Jerusalém passaram a contar o ano pelo ciclo metônico, os dias das festas não seguiam mais como Deus precisara na Torah, deslocando as Festas com uma diferença de um mês, como fica provado neste texto de 1840, do Dr. Rabino Absalom Peters:

“‘Tu celebrarás a festa dos pães ázimos por sete dias, como ordenei, no tempo designado do mês de Abibe.’ (Ex.23.15), literalmente, ‘no período do mês do grão verde’, como é evidente na palavra paralela em Êxodo 9.31: ‘E o linho e a cevada foram feridos, porque a cevada já estava na espiga.’ Mas, no presente, os judeus na Terra Santa não têm consideração por esta época designada e identificada por Jeová, mas seguem as regras prescritas na lei oral, a saber, acrescentando um mês a cada segundo ou terceiro ano, e assim tornando o ano lunar corresponde ao solar. E quando chega o 15º dia de Nisan, de acordo com este cálculo, eles começam a celebrar a festa acima mencionada, embora a festa de Abib já tenha passado ou ainda não tenha chegado. Em geral, a época própria ocorre depois deles terem a celebrado o todo o mês, o que nada mais é que uma inversão do mandamento da lei, que determina que a festa de Abib preceda o festival, e não o festival preceda a festa de Abib. Nenhuma espiga de grão verde eu vi em torno de Jerusalém na celebração desta festa. Os judeus Caraítas observam a festa mais tarde do que o Rabínicos, pois são guiados por Abib, e acusam este último de comer pão fermentado durante a festa. Eu mesmo acho que a acusação é bem fundamentada. Se esta festa dos pães ázimos não for celebrada em sua época, cada festa sucessiva será deslocada de seu período apropriado, uma vez que o mês de Abib está estabelecido na lei de Deus como a época a partir da qual todas as outras devem seguir. Oh! Como são verdadeiras as palavras de nosso Senhor, trata-se que através de suas tradições eles anulam a lei.” PETERS, Absalom. American Biblical Repository: biblical and general literature, chronological discussion, the history at chronological opinions. Serie 2. Vol.  3. n. V. Ed. n. XXXVII. New York: William Peters Office the Repository, Jan. 1840.

Deste modo, a sugestão de Snow era seguirem o mais fiel Calendário dos judeus Caraítas, que na época, ainda contavam os meses verificando o aparecimento da Lua Nova, respeitando a prescrita Lei do Senhor. Logo, a conclusão óbvia foi que, no ano de 1844, a purificação do Santuário no Yôm Kippur se daria a 22 de Outubro, motivando poderosamente o Movimento, já que pensava ter descoberto todas as suas falhas. Enfim, Jesus foi aguardado na data e a segunda e mais grave decepção esfacelou o movimento.

O ERRO 

De todas as dificuldades do movimento, nenhuma delas supera a crença de que o final das 2300 tardes e manhãs apontava a volta de Jesus. No entanto, era plenamente compreensível chegarem a esta conclusão:

1) O paralelo do cordeiro saindo do aprisco para morrer no santuário casa perfeitamente com Cristo deixando o Céu para morrer no mundo.

2) A profecia de Daniel 2 assegura que depois de Roma Papal na Europa viria o Reino de Deus.

3) Daniel 7 demonstra que depois dos 1260 anos da Supremacia Papal viria o Juízo que lhe tiraria seu poder.

4) Daniel 8 faz paralelo com Daniel 2 e 7, indicando que no fim do trabalho Papal viria a Purificação do Santuário, muito sugestivo para o paralelo do estabelecimento do Reino.

Na realidade Miller não estava errado de todo, o problema foi não compreender que antes do estabelecimento final do Reino de Deus haveria o juízo. Faltou um olhar mais detido para o ritual do Santuário, no qual apontava para a purificação do Santuário iniciada por um processo judicial no Santíssimo, antes dele sair do Santuário, o que representaria, então, a Volta de Jesus, já que o Pátio tipificava o planeta Terra, enquanto o Santo e Santíssimo os espaços celestiais onde Cristo, o Sumo Sacerdote, entrou para interceder.

CONCLUSÃO

O que há de mais importante nesta profecia é Cristo: Vemos sua onisciência ao delinear previamente os acontecimentos históricos, o cuidado que tem com seu povo, sua acuidade profética indicando 6 séculos antes o período de seu batismo, ministério, morte e o Evangelho indo ao mundo. Aqui se percebe também, diferentemente do que ensinam muitos religionários, que Cristo importa-se também com seu trabalho ministerial no Céu, como Advogado, Sacerdote e Sumo-Sacerdote, aplicando a nosso favor os méritos de sua expiação cabal na Cruz. Agora, se todos estes eventos tipificados no Santuário se cumpriram precisamente, será que falhará a saída do Sumo-Sacerdote do Santuário, que indica a Volta de Jesus à Terra? – Por certo que não! Jesus voltará, e todos que entregaram seus pecados a Ele pela confissão, arrependimento e conversão hão de ser salvos, pois nosso Intercessor nunca perde uma causa.

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